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Segundo paciente sem rastro de HIV depois de um transplante de células-tronco

13 de Março de 2019



El País

O vírus HIV é um ás da camuflagem. Infecta células saudáveis e se integra em seu material genético para passar despercebido e não dar as caras. Ele se esconde nas próprias células infectadas e impede o sistema imunológico de encontrá-lo e eliminá-lo. Essa é sua melhor tática de sobrevivência, e não se sai mal. Os antirretrovirais para combatê-lo estão se tornando mais eficazes, têm menos efeitos colaterais e reduzem o vírus à expressão mínima. Mas o HIV nunca desaparece de todo e permanece em uma espécie de caverna onde se abriga (reservatório viral), células infectadas latentes no organismo. É por isso que a cura hoje não existe. Exceto em um caso – o chamado paciente de Berlim, Timothy Brown, que está há 11 anos sem HIV depois de um transplante de células-tronco – e um segundo em fase de avaliação: em um consórcio internacional do qual o centro de pesquisa IrsiCaixa Barcelona participa foi identificado outro paciente que, após um transplante de células-tronco, parou de tomar antirretrovirais e há 18 meses o vírus não é detectado. Os médicos, prudentes, ainda falam de remissão, não de cura.

“É algo incrível. O paciente de Berlim não era um caso circunstancial. Temos um segundo caso. Não queremos falar de cura, pois em outros casos em que o tratamento foi interrompido, o vírus rebrotou", observa Javier Martínez-Picado, pesquisador do IrsiCaixa e colíder do consórcio internacional IciStem, que publicou a descoberta na revista Nature. Com suas diferenças, este segundo paciente replica o que foi alcançado com o paciente de Berlim, Timothy Brown, o homem soropositivo que, depois de se submeter a um transplante de medula óssea – onde se encontram as células-tronco – para se curar da leucemia, foi retirado do tratamento antirretroviral e o HIV, longe de reviver, desapareceu.

No transplante estava então parte da explicação do caso de Brown. O tratamento para leucemias como a sua ou outras doenças hematológicas semelhantes começa com uma quimioterapia potente que destrói a medula óssea, onde se aloja o tumor maligno e é, por sua vez, um dos reservatórios de HIV. A químio fulmina, ao mesmo tempo, as células tumorais e as células infectadas latentes. Em seguida, com um transplante de células-tronco de um doador saudável, a medula é reconstruída com um exército de células saudáveis, a doença hematológica é curada e o HIV, eliminado.

Mas, além do fator decisivo que foi o transplante, Brown tinha a particularidade de portar uma mutação em um dos dois alelos do gene CCR5 Delta 32, um erro genético que impede o vírus de penetrar na célula. Quando a mutação, que afeta 1% da população europeia, está nos dois alelos de cada gene, o HIV não consegue abrir as comportas para entrar na célula. O paciente de Berlim recebeu no transplante células-tronco de um doador que tinha essa mutação e já está sem o vírus há 11 anos.

O novo caso é um homem na Grã-Bretanha diagnosticado com HIV em 2003. Em 2012 iniciou a terapia antirretroviral e, logo depois, foi diagnosticado com linfoma de Hodgkin. Em 2016, foi submetido a um transplante de células-tronco. Ao contrário de Brown, este paciente não tinha nenhuma cópia defeituosa do gene CCR5 Delta 32, mas recebeu as células de um doador com a mutação. Passados 16 meses da cirurgia, os médicos do hospital de Londres onde foi tratado retiraram o tratamento antirretroviral e, desde então, está há um ano e meio livre do vírus.


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