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Por que mais de 70% dos casos de câncer de mama no Brasil são diagnosticados em estágio avançado
15 de Outubro de 2019
BBC
No início do ano, a Femama, que reúne 72 entidades filantrópicas que apoiam mulheres com câncer de mama, colocou no ar uma página intitulada "Relatos de Espera", para que pacientes compartilhassem as dificuldades que tiveram para serem diagnosticadas e começarem o tratamento.
Entre as dezenas de mensagens está a de Cristiane, de Mangaratiba (RJ), enviada no dia 6 de fevereiro. Com mais ou menos adjetivos, as histórias são parecidas, e não por acaso: as deficiências do Sistema Único de Saúde (SUS), na visão de muitos especialistas, postergam diagnóstico e tratamento de milhares de mulheres em todo o Brasil e aprofundam as desigualdades entre ricas e pobres.
Para especialistas como o mastologista Rodrigo Gonçalves, pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), esse é um ponto central na luta do país contra o câncer de mama, que tem atingido - e matado - cada vez mais mulheres no Brasil. Melhorar o acesso das mulheres ao SUS é uma das principais recomendações do paper Avaliação ética do rastreamento de câncer de mama no Brasil para se fazer frente às estatísticas negativas.
O trabalho, que está sendo submetido a uma publicação internacional, é assinado por ele e outros três colegas: José Maria Soares Jr, professor da Faculdade de Medicina da USP, Edmund Chada Baracat, pró-reitor de Graduação da USP, e José Roberto Filassi, professor chefe do setor de mastologia da FMUSP. O texto ressalta o número elevado de diagnósticos da doença em estágio mais avançado. A proporção passa de 70%: 53,5% dos diagnósticos são em estágio 2 e 23,2% em estágio 3, de acordo com os dados do estudo Amazona, assinado por pesquisadores de 19 instituições e que leva em conta dados de pacientes atendidos pelas redes pública e particular.
Em países como Estados Unidos, por exemplo, 62% dos casos são detectados em estágio inicial, quando os tumores ainda são localizados. O paper dos pesquisadores brasileiros ressalta que, se tomadas apenas as mulheres com acesso à saúde privada, as proporções se invertem. A grande maioria recebe o diagnóstico no estágio inicial da doença. Essa diferença, dizem, mostra como é "perverso" o sistema "dual" de saúde no Brasil, em que quem tem condições paga o sistema privado e quem não tem depende unicamente do SUS. Quanto mais tardio o diagnóstico, menores as chances de sobrevivência da paciente e mais invasivo o tratamento - o número de sessões de quimio e radioterapia e a necessidade da retirada da mama, a mastectomia.
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