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Por que fico com a barriga inchada depois de comer?

12 de Agosto de 2019



El País

Quem nunca se sentiu inchado após uma refeição, mesmo sem se empanturrar? Podem ter sido as lentilhas ou a maçã, talvez alho demais nas verduras refogadas (ou elas mesmas) ou aquele copinho de leite que se expande como se tivéssemos tomado uma garrafa inteira. Qualquer alimento pode causar essa indisposição. Você só precisa encontrar os criminosos que estão atacando seu estômago. Trata-se dos FODMAP, uma sigla em inglês que designa carboidratos de cadeia curta — oligossacarídeos, monossacarídeos e polióis fermentáveis — difíceis de absorver e que acabam se decompondo.

“Eles permanecem durante um tempo no intestino [primeiro no delgado e, se resistem à digestão, no cólon] e atraem água, gerando um aumento de volume”, explica o imunologista Eduardo Arranz, do Instituto de Biologia e Genética Molecular (IBGM), um centro da Universidade de Valladolid e do Conselho Superior de Pesquisas Científicas (CSIC) da Espanha. Por outro lado, os FODMAP revolucionam a microbiota (conjunto de microrganismos que habitam o intestino). Assim, além da água, forma-se gás. O resultado é conhecido e sofrido por muitas pessoas intolerantes a essas moléculas, uma condição que, no entanto, “é muito difícil de diagnosticar porque não existem marcadores biológicos que revelem o problema”, diz o especialista. Ou seja: saber se você tem essa intolerância é complicado, já que não há um teste que a confirme além dos incômodos gerados — que são também comuns a outras patologias.

A solução é evitar os alimentos que possam conter esse tipo de carboidrato. Mas isso na teoria, porque na prática esses açúcares estão presentes em quase todos os grupos de alimentos: cereais (trigo, centeio); verduras e legumes (oligossacarídeos); leite e derivados (dissacarídeos, incluindo sacarose, maltose e lactose); frutas e mel (monossacarídeos: glicose, galactose e frutose) e adoçantes (polióis). Quem se salva são a carne, o peixe e os ovos. E não se pode viver comendo só isso (ou pelo menos é muito triste).

Para conseguir um modelo de alimentação baixo em FODMAP, pesquisadores da Universidade Monash, em Melbourne (Austrália) desenvolveram em 2008 uma dieta homônima adotada pelo Departamento de Nutrição da Universidade King’s College, de Londres. Quando idealizaram a dieta, porém, os cientistas não tinham em mente pessoas saudáveis; a meta foi ajudar as que têm a síndrome do intestino irritável (SII), que são entre 10% e 15% da população da Europa e da América do Norte, segundo a Organização Mundial de Gastroenterologia (WGO). Sua eficácia é respaldada por diversos estudos.

“Atualmente, [a dieta FODMAP] é uma recomendação nutricional muito conhecida pelos especialistas em aparelho digestivo”, diz Fernanda Lima Sento Sé, dietista-nutricionista, membro da Academia Espanhola de Nutrição e Dietética. “Na maioria dos casos, contudo, não é bem implementada.” Arranz concorda: “É muito difícil seguir a dieta” e, para fazê-lo corretamente, “é importantíssimo ser acompanhado por um dietista-nutricionista.”

O processo não é fácil: exige um passo a passo rigoroso

Consciente das dificuldades de aderir à dieta, a nutricionista Fernanda Lima se concentra em ensinar como ela deve ser feita para obter os resultados desejados. São três etapas que devem ser seguidas ao pé da letra. Comecemos pela primeira: “Dura entre duas e oito semanas, dependendo da gravidade dos sintomas; é a mais restritiva, quando eliminamos temporariamente a ingestão de alguns alimentos e controlamos a quantidade de outros. O objetivo é reduzir a inflamação intestinal e melhorar a microbiota.” A segunda etapa é a mais importante: é o momento de reintroduzir os alimentos ricos em FODMAP, um a um, e de grupo em grupo, já que o organismo os digere de forma diferente. “Eles devem ser consumidos na hora do almoço, e o resto da alimentação ingerida precisa ser baixa nesses carboidratos de cadeia curta. Assim, sabemos com exatidão qual deles, especificamente, provoca os sintomas.”

Segundo a nutricionista, o processo é o seguinte: “Começamos com produtos ricos em frutanos [um tipo de oligossacarídeo], como alho, cebola e alho-poró. A orientação é consumir uma colher de sopa e, no dia seguinte, dobrar a quantidade para duas colheres; no terceiro dia, três.” Se o paciente não tiver nenhum sintoma (ele deve descrevê-los num diário), pode incorporar então outro alimento do mesmo grupo. Se tiver algum desconforto digestivo, deve voltar à primeira fase durante dois ou três dias, e depois testar a intolerância com outro alimento dentro do mesmo grupo. Concluída a lista de frutanos, “são introduzidos os polióis fermentáveis: abacate, brócolis, couve-flor, salsão...”, enumera Lima, “e em seguida os galacto-oligossacarídeos, a frutose e a lactose”.

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