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Surto de intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas mobiliza alerta nacional
03 de Outubro de 2025
O Ministério da Saúde confirmou que, até as 16h do dia 3 de outubro de 2025, foram notificadas 113 ocorrências de intoxicação por metanol associadas ao consumo de bebidas alcoólicas adulteradas em todo o Brasil. Do total, 11 casos foram oficialmente confirmados e 102 permanecem em investigação. Entre os casos notificados, 12 resultaram em óbito — sendo 1 confirmado em São Paulo e 11 em apuração em outros estados.
A maior parte dos registros concentra-se em São Paulo (101 casos), seguida por Pernambuco (6), Bahia (2), Distrito Federal (2), Paraná (1) e Mato Grosso do Sul (1). Os óbitos em investigação estão distribuídos com 8 em São Paulo, 1 em Pernambuco, 1 na Bahia e 1 no Mato Grosso do Sul. O surto teve início no final de setembro de 2025, quando os primeiros casos graves foram confirmados por laboratório do CIATox-Campinas.
O metanol, também conhecido como álcool metílico, é uma substância industrial utilizada em solventes, combustíveis e anticongelantes. Quando ingerido, é metabolizado em formaldeído e ácido fórmico, compostos altamente tóxicos que causam acidose metabólica, comprometimento do sistema nervoso central e toxicidade retiniana, podendo levar à cegueira permanente e morte. Os sintomas iniciais incluem náuseas, vômitos, dor abdominal, tontura e visão turva, enquanto sinais oculares podem surgir com atraso, dificultando o diagnóstico precoce.
Historicamente, surtos de metanol no Brasil não são inéditos. Em 1999, na Bahia, 35 pessoas morreram e cerca de 400 foram hospitalizadas após consumir cachaça adulterada com metanol. Em 1992, em Diadema (SP), outro surto causou intoxicações graves. Casos recentes em outros países, como México, República Dominicana e Índia, também demonstram a gravidade global do problema, com altas taxas de mortalidade.
O diagnóstico envolve histórico de ingestão, achados laboratoriais como acidose metabólica e, quando possível, dosagem de metanol no sangue. O tratamento deve ser iniciado rapidamente e inclui administração de antídotos (fomepizol ou etanol farmacêutico), hemodiálise para remoção da substância e de seus metabólitos, e suporte clínico intensivo. Quanto mais cedo o atendimento, maiores as chances de recuperação sem sequelas. Estudos internacionais mostram que, mesmo com tratamento, a mortalidade pode atingir 15% a 40%, e sequelas visuais são comuns em sobreviventes.
Em resposta ao surto, o Ministério da Saúde implantou uma Sala de Situação Nacional para coordenar vigilância, diagnóstico e atendimento às vítimas, além de adquirir 4,3 mil ampolas de etanol farmacêutico e solicitar a importação de fomepizol. Estados e municípios foram orientados a notificar imediatamente todos os casos suspeitos ao CIEVS, reforçando a vigilância epidemiológica e permitindo ações rápidas.
Outras medidas incluem pedidos de cooperação internacional à OPAS e às principais agências reguladoras do mundo (EUA, União Europeia, Canadá, Japão, China), bem como ações estaduais, como interdição de bares e apreensão de bebidas suspeitas. Em 30 de setembro, o Ministério da Saúde publicou a Nota Técnica Conjunta nº 360/2025, que orienta notificação imediata de casos suspeitos e procedimentos clínicos. Em 2 de outubro, a Câmara dos Deputados aprovou regime de urgência para projeto que torna crime hediondo a falsificação de bebidas alcoólicas.
O surto provocou repercussão social imediata: bares e restaurantes relataram queda nas vendas de destilados, enquanto consumidores se voltaram para bebidas registradas, cervejas e vinhos de procedência confiável. Estudos apontam que até 28% do mercado nacional de bebidas destiladas é ilícito, com preços até 35% abaixo dos produtos regulares, favorecendo a circulação de bebidas adulteradas.
Diante desse cenário, a COOMEB – Cooperativa de Médicos do Brasil reforça a importância da informação e da prevenção. “É fundamental que a população verifique a procedência das bebidas que consome. O metanol é extremamente tóxico e pode causar danos irreversíveis em poucas horas”, alerta a Dra. Ana Paula Petribú, vice-presidente da COOMEB. A cooperativa destaca ainda o papel dos profissionais de saúde na identificação precoce de sintomas, notificação imediata às autoridades e início rápido do tratamento.
A população deve adotar medidas de cautela: consumir apenas bebidas com rótulo e registro legais, desconfiar de preços muito baixos, evitar produtos adquiridos em locais informais e procurar atendimento médico imediato caso surjam sintomas suspeitos. A COOMEB reafirma seu compromisso com a saúde pública, promovendo orientação, capacitação médica e apoio à rede de vigilância para conter este surto e salvar vidas.
Fontes: Ministério da Saúde; Agência Brasil; Agência Gov; Associated Press; Wikipedia; PMC NCBI; Globemcc; MSF.