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Ministério da Saúde estuda campanha de alerta sobre Febre Oropouche

19 de Julho de 2024



Inicialmente concentrada na dengue, a equipe deve agora usar a estrutura para dispensar maior atenção para a evolução de casos da Febre Oropouche. Uma nota foi enviada na semana passada a estados e municípios para reforçar a vigilância para a doença, principalmente em gestantes. O alerta foi dado depois da identificação de anticorpos do vírus em quatro bebês com microcefalia e em um abortamento. Não está descartada a possibilidade de realizar uma campanha de esclarecimento.

Com dados obtidos até agora, não há como afirmar que a malformação seria resultante da infecção dos bebês pelo oropouche. Mas, de acordo com integrantes do ministério, os dados deixam claro que a investigação deve ser redobrada. A mensagem da pasta é: nenhuma hipótese deve ser descartada.

“O que temos agora é uma associação, não uma evidência bem construída”, afirmou ao JOTA o pesquisador da Fiocruz José Cerbino Neto. Já se sabe que outros vírus têm potencial de provocar síndromes no bebê quando a infecção ocorre ainda no útero. É o caso, por exemplo, da síndrome provocada pelo zika. “Para qualquer afirmação semelhante sobre oropouche, seria preciso acompanhar um número maior de gestantes e observar a evolução”, completou.

Cerbino Neto assegura, no entanto, que a associação hoje existente já é suficiente para que ações de prevenção e reforço de vigilância sejam realizadas.

As estratégias de prevenção e orientação, contudo, esbarram em uma dificuldade importante: a falta de conhecimento sobre o comportamento da doença e até mesmo sobre o mosquito transmissor.

Embora identificada no país na década de 1960, a Febre Oropouche é pouco estudada. A circulação da doença, acredita-se, esteve restrita à região Norte até pouco tempo. “Com o aumento da oferta de diagnóstico, vimos que hoje ela está presente em vários estados do país. Mas quando isso começou? Não sabemos”, afirmou ao JOTA Cláudio Maierovitch, pesquisador da Fiocruz.

Cerbino Neto diz que há tempos pesquisadores notam que pacientes com sintomas de arboviroses apresentam resultados não conclusivos para zika, dengue e chikungunya. “Com a realização de testes para oropouche, passamos a identificar também em outras regiões.” Hoje,16 estados têm casos confirmados da doença.

Para tentar reduzir as lacunas de conhecimento, três grupos foram montados no fim do ano passado no Ministério da Saúde sobre Febre Oropouche. Um deles ficará centrado em informações laboratoriais.

Depois do alerta a estados e municípios, o Ministério da Saúde afirma não ter recebido, até o momento, notificação de novos casos de suspeita de transmissão da doença da gestante para o bebê. A informação é que não há pedidos de envio de novas remessas de kits de diagnóstico para Febre Oropouche. Integrantes da pasta, no entanto, afirmam haver testes suficientes no país.

O exame realizado identifica material genético do vírus em amostras do paciente. A ideia é desenvolver também exames mais simples. Hoje, o país realiza também teste rápido para identificar zika, dengue e chikungunya (ZDC). A Fiocruz e o Instituto de Biologia Molecular do Paraná trabalham agora no desenvolvimento de um teste que, além das três arboviroses, passe também a ser indicado para verificar a Febre Oropouche (ZDCO).

Outro grupo será destacado para acompanhar a evolução dos pacientes. Até o momento, a doença não está associada a casos graves em adultos. Pouco se sabe, no entanto, com relação aos reflexos provocados na contaminação durante a gestação. Em estudos feitos em animais, há constatação de malformações.

Há também a necessidade de se avaliar o que ocorre na segunda manifestação da doença. Em alguns casos, pacientes apresentam os primeiros sintomas da infecção (que muito se assemelham à dengue, zika e chikungunya, como dores de cabeça, nas articulações, febre e mal-estar). Passados uns dias e uma relativa melhora, pacientes podem apresentar um segundo ciclo, com retorno de todos os sintomas.

Existe também interesse em entender qual o ciclo da doença nos mosquitos transmissores. O vírus é transmitido pela picada do mosquito maruim infectado. Mas há também registro de que outros insetos podem transmitir a doença. “O fato de haver capacidade de transmissão não significa que isso terá uma importância epidemiológica. Mas hoje, com conhecimento que temos, não há como saber se o aumento de casos foi provocado talvez por uma transmissão da doença associada a outro vetor”, disse Cerbino Neto. Entre os mosquitos com possibilidade de transmissão está o pernilongo.

Com a ausência de informações, as ações de prevenção ficam também genéricas. “Quanto mais soubermos dos hábitos dos vetores, mais precisas serão as orientações”, afirma Maierovitch. A malária é um exemplo. O vetor entra em maior atividade ao cair do dia. Isso significa que medidas de proteção precisam ser reforçadas neste horário.

“Desta forma, as orientações por enquanto são para gestantes usarem roupas que cubram braços e mãos e usar repelentes”, reforça Maierovitch. “Quanto mais conhecimento o país tiver, maior será a capacidade de resposta.”

Fonte: jota.info


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