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Deficiência auditiva deve atingir um quarto da população mundial até 2050

03 de Março de 2021



Correio Braziliense

Um quarto da população mundial, o equivalente a 2,5 bilhões de pessoas, terá algum tipo de perda auditiva até 2050. No primeiro Relatório Mundial sobre Audição, divulgado ontem, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que, desses, ao menos 700 milhões precisarão de cuidados auditivos crônicos ou de algum serviço de reabilitação. Enquanto que, nas crianças, doenças infecciosas e inflamatórias estão entre as principais causas, nos adultos, ruído excessivo é, segundo o órgão da ONU, o mais importante dos fatores envolvidos. A OMS destaca que medidas preventivas podem evitar que um em quatro indivíduos no mundo tenha esse sentido afetado.

“A perda auditiva não tratada pode ter um impacto devastador na capacidade das pessoas de se comunicar, estudar e ganhar a vida. Também pode afetar a saúde mental e a capacidade de manter relacionamentos”, afirma, em nota, Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. “Esse relatório descreve a escala do problema, mas também oferece soluções na forma de intervenções baseadas em evidências. Encorajamos todos os países a integrarem seus sistemas de saúde como parte de sua jornada rumo à cobertura universal de saúde.”

Lançado ontem, véspera do Dia Mundial da Audição, o documento destaca a necessidade de identificar e tratar precocemente problemas que possam levar à perda auditiva. Segundo a OMS, investir na saúde dos ouvidos é economicamente benéfico: para cada US$ 1 gasto, pode-se esperar US$ 16 de retorno, pois serão evitados tratamentos mais caros, além de possível comprometimento laboral.

Nas crianças, diz o documento, 60% da perda auditiva pode ser evitada ainda na gestação ou quando elas têm menos de 1 ano. “Na fase da gestação, a criança pode ter a alteração porque a mãe adquiriu rubéola. Então, vacinando, não há esse risco”, explica Larissa Camargo, otorrinolaringologista do Hospital Santa Lúcia e membro titular da Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia. Mesmo nos casos de surdez congênita, a médica esclarece que, com a identificação precoce do problema, pelo exame de audiometria, pode-se evitar que a criança seja impedida de ouvir e falar, pois há implantes cocleares que corrigem o problema.

“Até os 6 meses de idade, já se deve saber se a criança responde ou não aos estímulos. Com o tratamento adequado, ela não terá esse prejuízo de linguagem e interação social. A audição também é um órgão de proteção. Ouvir uma buzina evita ser atropelado. Se alguém entra na sua casa, é preciso ouvir”, enfatiza Larissa Camargo. O relatório da OMS e a especialista destacam que, na infância, outro problema que pode levar à perda auditiva são as infecções de repetição (otite) não tratadas.

Sistemas integrados

Já os adultos sofrem, principalmente, com a exposição ao ruído. Roberto (nome fictício a pedido do entrevistado) tem 46 anos e, há três, descobriu que sofre de perda auditiva bilateral e irreversível. Ele trabalhou por sete anos em uma marmoraria, sem equipamento de proteção adequada, e conta que chegou a se acostumar com o barulho intenso das máquinas de corte do material. Porém, ao conversar, tinha cada vez mais dificuldades de entender o que as pessoas diziam. “Também comecei a ter dor no ouvido. Aí, procurei um posto de saúde. O médico me passou a audiometria e outros exames. Eu uso um aparelho auditivo e fiz algumas sessões de fonoaudiologia, mas não tenho plano de saúde, e é difícil conseguir essas sessões no hospital público”, conta Roberto, que luta na Justiça por uma indenização.

“Na maioria dos países, os cuidados auditivos ainda não estão integrados aos sistemas nacionais de saúde, e o acesso aos serviços é um desafio para aqueles com doenças de ouvido e perda auditiva”, diz o relatório. Segundo o documento, considerando países com baixo índice de desenvolvimento humano (IDH), cerca de 78% têm menos de um otorrinolaringologista por 1 milhão de habitantes, 93% têm menos de um audiologista por milhão (esse profissional identifica distúrbios que pode afetar a audição), apenas 17% têm um ou mais fonoaudiólogos por milhão, e 50% têm um ou mais professores para surdos por milhão. “Essa lacuna pode ser eliminada por meio da integração dos cuidados auditivos aos cuidados primários de saúde”, defende a OMS.

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