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Covid-19: anti-inflamatório contra artrite reduz risco de morte em 14%
13 de Fevereiro de 2021
Correio Braziliense
Originalmente desenvolvida para o tratamento da artrite reumatoide, a droga anti-inflamatória tocilizumabe diminui em 14% o risco de morte de pacientes hospitalizados com covid-19 grave. Além disso, o medicamento encurta o tempo de internação e reduz a necessidade de ventilação mecânica, segundo o maior estudo mundial sobre uso de remédios preexistentes para o tratamento da infecção por Sars-CoV-2, liderado pela Universidade de Oxford, no Reino Unido.
Em um artigo divulgado na plataforma de pré-publicação científica medRxiv, pesquisadores do ensaio Recovery relataram os resultados preliminares do estudo, referentes a dados de 92% dos participantes. Um total de 2.022 pessoas com covid-19 foram escolhidas aleatoriamente para receber tocilizumabe por infusão intravenosa. A progressão da doença foi comparada à de outros 2.094 indivíduos, também randomizados, que receberam o tratamento usual.
Oitenta e dois por cento da amostra total estavam tomando algum tipo de esteroide. A equipe é a mesma que descobriu os efeitos da dexametasona no tratamento da covid — segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), essa é, até agora, a única droga comprovadamente capaz de reduzir a mortalidade nos casos de infecção por Sars-CoV-2.
Todos os participantes estavam hospitalizados, apresentavam sinais de inflamação e necessitavam de oxigênio. Cerca de dois terços dos pacientes no estudo tinham menos de 70 anos, e uma proporção semelhante era do sexo masculino.
Os resultados mostram que, entre os pacientes no grupo que recebeu tocilizumabe, 29% morreram em 28 dias. Já entre os submetidos ao tratamento padrão, o número foi de 33%. Segundo os pesquisadores, isso corresponde a uma redução de 4% no risco absoluto de morte e de 14% no risco relativo. Em estudos clínicos, risco absoluto é a probabilidade de um evento — nesse caso, o óbito — ocorrer no grupo tratado com a droga que se quer testar. Já o relativo considera essa probabilidade, mas em relação ao outro grupo.
“Você precisaria tratar cerca de 25 pacientes para salvar uma vida”, explicou, em uma apresentação dos resultados aos jornalistas, Martin Landray, professor de medicina e epidemiologia da Universidade de Oxford e pesquisador-chefe adjunto do Recovery. “Vimos (os benefícios) em jovens e idosos, homens e mulheres, em diferentes tipos de etnias, em pessoas que usavam ventiladores invasivos, máscaras faciais não invasivas e em pessoas que usavam máscaras de oxigênio simples na enfermaria geral”, afirmou.
Além disso, segundo o estudo, que será publicado em breve em uma revista revisada por pares, o tocilizumabe aumentou a probabilidade de alta em 28 dias em 54%, comparado a 47% do verificado no grupo do tratamento padrão. Os benefícios também foram observados em todos os subgrupos de pacientes, incluindo aqueles que requerem oxigênio por meio de uma máscara facial simples até os que dependiam de ventiladores mecânicos.
Entre os pacientes que não estavam em ventilação mecânica invasiva quando incluídos no estudo, o tocilizumabe reduziu o risco de progredir para esse tipo de intervenção ou para o óbito de 38% para 33%. No entanto, não houve evidência de que anti-inflamatório tivesse qualquer efeito na chance de interromper, de forma bem-sucedida, a ventilação mecânica invasiva naqueles que já se encontravam sob esse tratamento.