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Novos dados sobre a vacina de Oxford geram dúvidas sobre sua autêntica eficácia
27 de Novembro de 2020
El País
A informação sobre o avanço científico mais necessária para a humanidade, a vacina contra a covid-19, está sendo administrada a conta-gotas através de notas de imprensa de laboratórios farmacêuticos com ações nas Bolsas, o que talvez seja a pior maneira de comunicar a ciência. Os principais anúncios saíram em três segundas-feiras consecutivas. O laboratório Pfizer, em 9 de novembro, foi o primeiro a divulgar os resultados preliminares de sua vacina experimental ?primeiro falando em de 90% de eficácia, e depois em 95% –, e sua cotação disparou 15%. A companhia norte-americana Moderna pegou o bastão na segunda seguinte, 16 de novembro, proclamando uma eficácia similar, e seu valor de mercado subiu 10%. E nesta segunda foi a vez do laboratório britânico AstraZeneca e da Universidade de Oxford fazerem um confuso anúncio de uma eficácia que oscilava entre 62% e 90%, em função da dose. O paradoxal é que as ações da AstraZeneca caíram quase 4%.
Agora, crescem as dúvidas sobre o anúncio feito no começo da semana. A tradicional universidade britânica e seus parceiros comerciais emitiram dois comunicados sobre seus resultados, destacando a ausência de efeitos adversos graves, o fato de a conservação poder ser feita em uma geladeira comum e de a eficácia chegar a até 90%. A AstraZeneca, além disso, comprometeu-se a produzir a vacina sem fins lucrativos durante a pandemia, com um preço de aproximadamente 19 reais por dose, frente aos 95 da injeção da Pfizer e os 133 da Moderna. Entretanto, ao longo da semana foram revelados outros dados que turvam esse promissor anúncio.
O diretor científico da operação norte-americana para acelerar o desenvolvimento de uma vacina, Moncef Slaoui, sugeriu na terça-feira que essa eficácia de 90% foi observada apenas em um ramo do ensaio clínico de Oxford com 2.700 pessoas, todas elas menores de 55 anos. O neurocientista Menelas Pangalos, vice-presidente da AstraZeneca, confirmou esse dado na quarta-feira ao jornal The New York Times. As entidades britânicas ocultaram o tema da idade em seus comunicados da segunda-feira, um fato que gera dúvidas sobre a autêntica eficácia da imunização em idosos.
“Uma vacina para o mundo deve se basear na boa ciência e na transparência. Não podemos deixar o controle sobre o desenho da pesquisa, os dados dos ensaios clínicos, a análise e a comunicação nas mãos de empresas que respondem às pressões do mercado, não aos imperativos da saúde pública”, denunciou nesta quinta-feira a cientista belga Els Torreele, do Instituto para a Inovação e a Utilidade Pública do University College de Londres. “A ciência comunicada através de press releases é prejudicial para a saúde pública e para a confiança dos cidadãos”, criticou.
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