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Pesquisas mostram novos caminhos para combater a depressão
21 de Setembro de 2020
Correio Braziliense
A depressão é uma das doenças que mais crescem globalmente. Uma das maiores dificuldades enfrentadas no combate a essa enfermidade é que parte dos pacientes não responde ao uso dos antidepressivos disponíveis. Para resolver esse problema, cientistas tentam entender melhor os efeitos desse transtorno no organismo. Eles têm observado fortes indícios de que a inflamação está ligada ao distúrbio, e, com base nesta possível conexão, buscam substâncias que possam interrompê-la. As descobertas, acreditam, poderão contribuir para o desenvolvimento de fármacos que atuem principalmente em quadros depressivos mais graves.
Em grande parte dos casos, a depressão é tratada com drogas projetadas para aumentar a capacidade do cérebro de formar novas conexões, um processo chamado neuroplasticidade. Porém, esses medicamentos não funcionam para cerca de um terço dos pacientes. Pesquisas já indicaram algumas razões para isso. “Investigações mostraram que os pacientes com inflamação aumentada não respondem ao tratamento antidepressivo, mas não temos um aprofundamento desses mecanismos biológicos e como eles se sustentam”, explica ao Correio Igor Branchi, professor do Istituto Superiore di Sanità, em Roma.
Branchi e sua equipe resolveram investigar se a neuroplasticidade poderia estar relacionada à inflamação. Em um dos experimentos, trataram ratos com lipopolissacarídeo, uma droga que aumenta a inflamação, ou com ibuprofeno, que tem efeito contrário. Dessa forma, foram capazes de alterar o nível de inflamação dos animais, algo semelhante a aumentar ou a diminuir o volume de uma música. Os cientistas também mediram os marcadores de plasticidade nos camundongos.
Os cientistas descobriram que a plasticidade neural no cérebro das cobaias era alta desde que eles mantivessem a inflamação sob controle. Mas os níveis de inflamação muito altos e muito baixos significaram que a plasticidade neural havia sido reduzida. “O nosso trabalho mostra que a neuroplasticidade e a inflamação são interdependentes e que, para fornecer as condições certas para o antidepressivo funcionar, a inflamação precisa ser rigidamente controlada”, detalha o autor do estudo, que foi apresentado no congresso anual do Colégio Europeu de Neuropsicofarmacologia (ENCP, em inglês), na semana passada. Segundo Branchi, se a abordagem for confirmada também em humanos, “pode ter implicações de longo alcance”.
Thiago Blanco, psiquiatra e professor da Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS), em Brasília, explica que a relação entre depressão e processos inflamatórios passa a ser mais bem compreendida a cada dia, com o surgimento de mais estudos como o italiano. Para o especialista, os novos dados têm ajudado a compreender melhor este distúrbio. “A inflamação, as imagens de ressonância magnética e a genética são os marcadores que temos levado em consideração quando lidamos com pacientes com depressão”, detalha.
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